Croquis de uma mente [in]sana

10 março 2007

carta de despedida...


Parado, quieto e apreensivo, atento ao nada, ao vazio e inundado ao mesmo tempo pela essência da vida: o ar. Imagino quantos milhões de histórias estão sendo criadas neste exato momento em diferentes cantos do mundo, sejam de prazeres, de felicidades, tristezas, perdas, ganhos, nascimentos e mortes.
Este ar que passa por nós a cada segundo e que volta para dentro de nós com novas histórias, por quem será que passou? quem o sentiu da última vez? o que pensou? Sua imaterialidade traz consigo lembranças de outros que nos invadem sem permissão, pois é uma questão de permitir e viver, ou negar-se e morrer.

Dando voltas e voltas, como rodopios de um pião, o mundo retorna sempre a alguma posição anterior e retomamos o que ficou para trás, mas que já retorna de forma diferente, pois foi vivido por outros, assim como as lembranças em nossa mente e a saudade em nosso peito, que vira e mexe nos toma em um momento nostálgico.

Portanto, deixar uma pedra solta no caminho, pode mais cedo ou mais tarde fazer com que nós mesmos tropecemos nela ao retomarmos a posição anterior.

Vivemos ciclicamente, fazendo com que em cada ciclo completemos um ensinamento, ora doloroso, ora prazeroso.

É estranho perceber que quando criança imaginávamos que ao ser adultos tudo mudaria de uma hora para outra, por um lado muda, pois histórias foram criadas, lições aprendidas, derrotas e conquistas passaram a fazer parte do ser, mas a criança ainda existe lá dentro, talvez tímida e escondida bem no cantinho, por ver e perceber o quanto o mundo ficou de repente maior do que imaginava, pois mesmo crescendo, parece que o seu mundo cresceu na mesma proporção, se não até maior...é interessante perceber o quanto lá no fundo ainda somos aquela criança tímida ou sapeca levada da breca, que toca a campainha e sai correndo, que adora um brigadeiro, um carinho deitado no sofá e um beijo na testa,mas com uma diferença, agora o medo impera, pois o tamanho que assumimos não condiz com tais atos, somos adultos.

Só mudamos de escala e agora respirando o mesmo ar de quando éramos crianças, assim como o ar dos nossos pais, avós bisavós...talvez se respirarmos profundamente poderíamos ainda sentir um pouco deles presente no ar, vivo dentro de nós em um profundo suspiro.

Portanto, talvez o último adeus, seria o último suspiro, a carta de despedida aqueles que ficam ..sendo lançado ao ar o último desejo, as últimas lembranças, os últimos sonhos....o último. Uma carta de despedida lançada eternamente ao ar, para aqueles que ficam e no inspirar e aspirar sentirão sua presença.