Croquis de uma mente [in]sana

19 agosto 2007

:: estar em gravidade 0 ::



Abrir os olhos e apenas encontrar a escuridão pode ao primeiro instante dar uma sensação de medo e pânico, pois ver a imensidão indefinida e provável não delimitada por quinas ou arestas, nos desestabiliza entre o ser e provável.
A capacidade de mutação ou transformação, quem sabe, de maneira mais radical aconteceriam ambos, é praticamente permitir-se morrer para nascer novamente. Lançar-se na morte daquilo que acreditava como verdadeiro e único, já estabelecido como a única verdade para nós mesmos, e que, portanto, nos colocava em uma condição estável, certa e segura. Tudo isso sendo trocado pelo possível, incerto, ou quem sabe o instável, assim como uma bandeira que tremula no vento em gestos inesperados.
Esta incerteza traz consigo aquela sensação de engasgado pela própria vida, pois na gravidade zero precisamos reaprender a nos deslocar e a movimentar, pois a lógica ainda não está clara, uma vez que as palavras como cotidiano, rotina, entre outras que passam a ideia de repetição, programação de atos, falas e ações repetidas não existem mais para podermos ao menos construir as hipóteses prováveis de como será o "daqui a pouco", ou até mesmo, este exato momento.
Réquiem de Mozart para mim, não representa uma música fúnebre que praticamente venera a morte, mas sim, o presságio do início de algo novo e carregado de vida, embora possa ter uma sonoridade triste, dramática e melancólica. Claro que teria que ser assim, pois é o final de um ato que precisa ter uma grandiosidade para ter valido a pena tudo que se passou, mas a maior beleza que vejo nessa música é a sensação de melancolia e morte que traz um sentimento posterior: o de vida, a imensidão e o provável.
O engasgo pela vida que se aproxima rapidamente, e que muitas vezes nos sufoca, é necessário para nos tirar do eixo em que nos colocamos. Assim, podemos traçar novas trajetórias a serem percorridas e lugares a serem conhecidos, fazendo da instabilidade o elemento motivador para estar vivo e não morto em suas crenças já estabelecidas como únicas e verdadeiras.
"De um modo geral, considera-se tradicionalmente que uma entidade é um ser vivo se exibir todos os seguintes fenômenos pelo menos uma vez durante a sua existência:

Crescimento.
Metabolismo
, consumo, transformação e armazenamento de energia e massa; crescimento por absorção e reorganização de massa; excreção de desperdício.
Movimento, quer movimento próprio ou movimento interno.
Reprodução, a capacidade de gerar entidades semelhantes a si própria.
Resposta a estímulos, a capacidade de avaliar as propriedades do ambiente que a rodeia e de agir em resposta a determinadas condições."


Embora tenha sido tirado da internet e não de uma fonte tão segura, mas este conceito de o que é necessário para ser um SER VIVO é aplicável, pois precisamos crescer e metabolizar tudo que nos rodeia e tudo o que passamos, mas não submeter-se passivamente, mas sim, movimentar-se, agindo de forma a transformar o seu "eu", respondendo aos estímulos que a vida nos traz e que transmitimos, ou melhor, que devemos reproduzir, transmitir adiante.
Engasgado pela vida que chega e que inunda o meu "eu", tento-me equilibrar na gravidade zero explorando ao máximo essa beleza de poder fluir e ver a vida sob diversos ângulos.