Croquis de uma mente [in]sana

17 março 2007

Máscara de ar




Estou aqui preso em casa, pensando e olhando pela janela e imaginando o quanto o ar já pode estar contaminado, o quanto o mundo pode estar realmente com seus dias contados e nós ingenuamente acreditamos ainda que a vida está la fora, a nossa espera. Sim, realmente está, mas o quanto teremos que dar em troca por isso?
Agora, digo que está contaminado não pelos poluentes, mas sim, pela maldade, mentira, inveja, descaso, raiva, ódio, cobiça, intrigas, enfim...
Lanço meus olhos novamente pela janela e vejo que a abstração é a única solução para poder encarar esta realidade, tentar vestir a máscara de ar que nos possa proteger e sair para enfrentar o mundo, pois os mais sensíveis com certeza não conseguiriam sobreviver sem esta única possibilidade.
Sem esta proteção em sua face, seria logo contaminado e suas células com certeza entrariam em colapso e em um processo de corrosão, como uma bomba nuclear, que ao explodir e destrói em segundos.
Muitas vezes essa sensibilidade não pode ser externada, pois sob influência do meio contaminado, seria encarada como condição inversa.
Como em outras postagens, o fim do mundo não está em uma visão alegórica e pirotécnica de efeitos de luzes, cores, texturas, sabores e odores sugerindo até mesmo uma cena curiosa e fantástica...mas em um processo de corrosão e contaminação gradativa que consome o ser e que faz dos puros de alma, animais exóticos em uma gaiola.

10 março 2007

carta de despedida...


Parado, quieto e apreensivo, atento ao nada, ao vazio e inundado ao mesmo tempo pela essência da vida: o ar. Imagino quantos milhões de histórias estão sendo criadas neste exato momento em diferentes cantos do mundo, sejam de prazeres, de felicidades, tristezas, perdas, ganhos, nascimentos e mortes.
Este ar que passa por nós a cada segundo e que volta para dentro de nós com novas histórias, por quem será que passou? quem o sentiu da última vez? o que pensou? Sua imaterialidade traz consigo lembranças de outros que nos invadem sem permissão, pois é uma questão de permitir e viver, ou negar-se e morrer.

Dando voltas e voltas, como rodopios de um pião, o mundo retorna sempre a alguma posição anterior e retomamos o que ficou para trás, mas que já retorna de forma diferente, pois foi vivido por outros, assim como as lembranças em nossa mente e a saudade em nosso peito, que vira e mexe nos toma em um momento nostálgico.

Portanto, deixar uma pedra solta no caminho, pode mais cedo ou mais tarde fazer com que nós mesmos tropecemos nela ao retomarmos a posição anterior.

Vivemos ciclicamente, fazendo com que em cada ciclo completemos um ensinamento, ora doloroso, ora prazeroso.

É estranho perceber que quando criança imaginávamos que ao ser adultos tudo mudaria de uma hora para outra, por um lado muda, pois histórias foram criadas, lições aprendidas, derrotas e conquistas passaram a fazer parte do ser, mas a criança ainda existe lá dentro, talvez tímida e escondida bem no cantinho, por ver e perceber o quanto o mundo ficou de repente maior do que imaginava, pois mesmo crescendo, parece que o seu mundo cresceu na mesma proporção, se não até maior...é interessante perceber o quanto lá no fundo ainda somos aquela criança tímida ou sapeca levada da breca, que toca a campainha e sai correndo, que adora um brigadeiro, um carinho deitado no sofá e um beijo na testa,mas com uma diferença, agora o medo impera, pois o tamanho que assumimos não condiz com tais atos, somos adultos.

Só mudamos de escala e agora respirando o mesmo ar de quando éramos crianças, assim como o ar dos nossos pais, avós bisavós...talvez se respirarmos profundamente poderíamos ainda sentir um pouco deles presente no ar, vivo dentro de nós em um profundo suspiro.

Portanto, talvez o último adeus, seria o último suspiro, a carta de despedida aqueles que ficam ..sendo lançado ao ar o último desejo, as últimas lembranças, os últimos sonhos....o último. Uma carta de despedida lançada eternamente ao ar, para aqueles que ficam e no inspirar e aspirar sentirão sua presença.


06 março 2007

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."
Clarice Lispector

Borrões no croqui


Nesta mente [in]sana sinto que os croquis estão borrando, transformando-se em grandes manchas e perdendo a forma. As vezes temos que tomar decisões difíceis, mas necessárias, não adianta tempo, não adianta ir e vir, não adianta escapar, apenas encará-las de frente.

Destas ficarão apenas as lembranças de um tempo em que acreditávamos estar numa decisão certa, pois ninguém é louco, a não ser um masoquista, de querer traçar e trilhar caminhos tortuosos.

Este tempo não volta, foi e ficou no seu devido lugar e agora é tentar reorganizar estes borrões e ver o que sobra para expô-los na galeria dos sonhos que um dia foram idealizados.

Em um dia de céu azul mesclado por poucas nuvens, podemos perceber que estas brincam entre si, nos atraindo fixamente para entender seu balet, desenhos contam quase que histórias, mas que foram associadas pela nossa mente [in]sana.

Olhar para o horizonte e ver o pôr do sol, escondendo-se timidamente por causa da Lua romântica que começa a tomar conta do céu com as estrelas nos faz entrar em uma sintonia perfeita de quando devemos entrar e sair das histórias criadas por nós mesmos.

É no pôr do sol, que encontramos o equilíbrio perfeito....a linha limite e o entre de estar no dia e noite, da dor e da alegria e de querer e poder, MAS PRINCIPALMENTE DE CHORAR E SORRIR. A lembrança maravilhosa de momentos lindos, mas a tristeza imensa de que não teremos mais.

Mas enfim, é se preparar para o próximo ato e continuar a história, a nossa história...

"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar para atravessar o rio da vida - ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o. " - atribuída a Nietzsche